quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

A vida do amor

Quando o amor nasce no coração, é quase impossível fazer esse parto. Dói, arde, coça, incomoda, tudo ao mesmo tempo. Mas sai, ah, esse bebê sai. Feio, mas sai.

Aí ele cresce. Vira uma criança linda e pura. Saltitante e alegre, corre pelo parque e chafurda-se na lama, na areia, na água, e pouco se importa com a mãe que vai lavar suas roupas mais tarde. É simplesmente feliz.

Mais um pouco, ele vira adolescente rebelde. Briga com tudo e com todos. Não se importa com a dor dos outros, somente com a sua. Pensa ter razão sobre tudo, pensa saber tudo, mas, ah, como são os adolescentes... falta muito do mundo para conhecerem!

Passada a fase rebelde, ele amadurece. É um belo adulto, que vai ficando cada dia mais bonito e vistoso, ganhou formas, ganhou jeito de homem. Ganhou curvas femininas. Tem cara de homem, tem cara de mulher.

E no final, já grisalho e de bengala, cego e triste, vê-se solteiro e não correspondido. E, por fim, morre, e consigo leva aquele que lhe deu à luz.

(1994)

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