terça-feira, 27 de abril de 2010

Empezar

tengo algo que sana el dolor
mi perfume y mis manos
un minuto lejos de tu cuerpo
todo el tiempo cerca el corazón
mis uñas rojas que deslizan el amor por tu piel
mis labios rosados que tocan tus ojos castaños
tus bellos y felices ojos
de donde brotaba una lagrima de tanto sentimiento

tengo algo en mis manos
mejor que anestesico
son mis besos y mis sonrisas
que dejo para iluminar tu día
que dejo para iluminar tu noche
que dejo para iluminar tu camino

tengo algo en mi pecho
dos cosas que laten y son tuyas
mi corazón y mi voz
el primer de sangre y palabras
y con él viene la voz para decirte que te quiero

quarta-feira, 21 de abril de 2010

O cheiro do eugenol

Laura acordou assustada, pois dormira o dia inteiro. Eram dezoito e quinze. Olhou-se no espelho e viu seus dentes amarelados, tortos e feios, seu rosto pálido e sua pele fosca. Pensou que era hora de mudar, então colocou um vestido preto, um chapéu, mesmo sendo de noite, um scarpin da mesma cor e saiu de casa.

Ia andando pela rua, sem destino, até que sentiu cheiro de eugenol e olhou para o lado. Leu a placa de uma loja transformada em consultório: "Dr. Fernando Silva - cirurgião-dentista" e entrou. Conversou com a secretária, uma mocinha muito humilde e simpática, que já estava de saída.

- Boa noite, quero marcar uma consulta com o doutor Fernando.

- Boa noite, mas eu já estava indo embora... não posso ajudá-la depois?

- Não, moça, não posso retornar amanhã. É só marcar.

- Para quando então?

- Para depois de amanhã. O doutor atende até mais tarde? Horário de dezenove horas?

- Hmmmm... atende sim, e tem o horário. Seu nome?

- Laura. Meu nome é Laura.

- Marcado. Agora tenho que ir. Obrigada.

A secretária foi embora, deixando as luzes acesas e sem fechar a loja, pois o dentista ainda estava em atendimento. Laura esperou ainda por mais uns minutos para conseguir vê-lo. Foi quando cessou o barulho do motorzinho vindo de dentro do consultório; ouviram-se vozes lá dentro, então a porta se abre e surgem o paciente e o dentista.

- Obrigado, senhor Pedro. Nós nos encontramos então na quarta que vem.

- Eu que agradeço, doutor. Até quarta!

Laura ficou paralisada ante a beleza do dentista. Fernando tinha cerca de trinta e cinco anos, era alto, forte, tinha os cabelos lisos negros e os olhos castanhos, a pele bronzeada de praia. Usava um cavanhaque que deixava em destaque a sua boca carnuda e seu sorriso largo e muito branco, e seus músculos bem definidos podiam ser percebidos sob sua roupa branca e justa.

- Boa noite, posso ajudá-la?

- B-boa noite... - respondeu Laura, com uma vozinha vacilante e suave, não característica sua.

- Posso ajudá-la? Você quer marcar um horário?

- Eu... eu... eu já marquei... depois de amanhã... dezenove horas...

- Seja bem-vinda então, senhora... - foi sentando-se e anotando.

- Laura. Me chamo Laura.

- Belo nome, é o nome da minha mãe. Então eu a espero aqui na sexta. Bonito chapéu também, faz muito tempo que não vejo alguém usar um.

- Obrigada...

- Agora, se me dá licença, tenho que fechar o consultório. Obrigado por ter vindo.

- Até sexta...

Laura foi saindo devagar, hipnotizada. Tinha certeza de que seu tratamento seria inesquecível. Continuou andando sem destino pela rua, observando os carros, as pessoas, os prédios, sem tirar seu chapéu.

Na sexta-feira, compareceu pontualmente à consulta. A mesma cena da semana anterior, a secretária sempre a sair correndo, e o dentista finalizando o atendimento em outro paciente. Fernando convidou-a a entrar, solicitou que sentasse na cadeira e, para ser simpático, perguntou sobre o chapéu.

- Não é sempre que uso, - respondeu Laura, sem olhar para ele. - só quando acho que não estou tão bonita para aparecer para os outros.

- Mas você é tão bonita! Não precisa se esconder!

Realmente a pele de Laura estava com um efeito diferente do da semana anterior. Parecia mais bonita e firme do que aquilo que vira ao espelho, sem marcas, sem rugas. Ela era até uma moça bonita, sedutora, mas não se cuidava muito, e saía somente à noite, para que ninguém visse seu rosto quando estivesse de mau humor. Agradeceu a gentileza do dentista e foi respondendo monossilabicamente às perguntas que ele fazia.

- Então, vamos fazer uma avaliação mais objetiva?

- O quê? - Laura divagava em pensamentos bem longe dali.

- Pode abrir a boca.

- Ah... sim...

Permitiu, então, que Fernando observasse seus dentes um a um. Ele encontrou algumas cáries pequenas e logo propôs o tratamento. Ficaria em tantos reais, poderia parcelar em tantas vezes, poderia dar-lhe de cortesia uma limpeza. Laura somente escutava e nem prestava muita atenção, foi concordando com tudo e marcando logo uma nova sessão, sempre às dezenove horas.

Fernando começou a interessar-se por Laura. Era sempre a última paciente da sexta-feira, poderia aproveitar um dia e convidá-la para um drink após o expediente. Ele era solteiro, o máximo que poderia acontecer era tomar um "não" da moça. Mas guardou seus pensamentos, afinal, não queria perder a cliente, e muito menos ter problemas com o Conselho de Odontologia. Ia divagando nisso, até que ela chegou para mais uma consulta.

Engraçado, parecia que Laura lera os pensamentos dele. Começou a observá-lo com mais critério, analisar os músculos sob a blusa branca, as mãos grandes e delicadas que encostavam em seu rosto. Não o olhava nunca diretamente nos olhos, não podia, e nem queria que ele percebesse que ela o desejava. Tirava o chapéu durante a consulta porque realmente tinha que tirar, por ela ficaria ali, tapando o rosto, para não se deixar hipnotizar por ele. Mas foi impossível resistir. Ao final da sessão, Fernando virou-se de costas para ela, a fim de guardar alguns materiais e dispensar os restos de amálgama. Neste momento, Laura levantou-se e, ainda sentada na cadeira, passou a mão por seu ombro e pescoço, arranhando-lhe de leve com as unhas cor de vinho.

O dentista não resistiu à investida. Já ia aproveitar o momento para fazer-lhe o convite que lhe viera à cabeça uma hora atrás, mas Laura tocou-lhe os lábios com o dedo indicador, como se dissesse que não queria ouvi-lo. Beijou-lhe o pescoço, passou as mãos por todo o seu corpo. Fernando correspondia às carícias e deixou-se levar pelo impulso. Problemas com o Conselho? Nem se lembrava mais.

A moça não perdeu tempo. Foi logo partindo para a área que lhe interessava. Abriu-lhe o zíper da calça e sentiu a máxima excitação do dentista. Retirou-lhe a calça e a cueca e iniciou nele uma sessão de sexo oral tão frenética que Fernando quase ficou louco. Ele gemia, gritava, puxava os cabelos de Laura, como se pedisse mais. E quanto mais fazia isso, mais forte ficava o ritmo que a moça imprimia, ela se excitava ainda mais. E foi sugando-lhe até que ele atingiu um orgasmo. O melhor e mais intenso de toda a sua vida.

Laura queria mais, e não parou, mesmo estando o dentista com a sensibilidade à flor da pele. Não deu tempo para que ele se recuperasse. Continuou o sexo, e foi sorvendo-lhe o esperma, até que Fernando começou a sentir dor. E quanto mais ele tentava retirá-la dali, mais ela o sugava. E sugava, sugava, sugava, e, enfraquecido pela dor e pelo orgasmo recente, não conseguiu ter forças para empurrar a cabeça de Laura. Caiu ao chão e ela continuou até que conseguiu sangue. Por fim, rasgou-lhe o membro com os dentes; subiu ao seu pescoço e ali também os cravou. Abriu-lhe as entranhas e deglutiu tudo o que podia. Mastigou seu coração com a alegria de quem prova um churrasco após uma quaresma de sacrifício. Foi embora, deixando o corpo inerte jogado ao lado da cadeira, fechando a porta do consultório e apagando a luz.

Laura, então, pôs o chapéu na cabeça, e saiu caminhando pela rua, sem destino. Observava as pessoas, os automóveis, as construções. Ia despreocupada, até que olhou para o lado quando sentiu cheiro de eugenol.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Caro data vermibus

Eram onze da noite quando o professor Leonardo deixou a sala de necrópsia com seus alunos. Um terrível silêncio tomava conta do local. Mesmo sendo estudantes e ele professor, aquele calar de corpos ainda era uma sensação estranha para todos.

Faziam aquilo às ocultas, pois sabiam que era carne, e profaná-la, mesmo que fosse dada aos vermes, era motivo para a morte e a perseguição. Em 1509, certamente era um pedido para isso.

Já na rua, um aluno novato pergunta:

- Professor, quando terminamos de dissecar esta caro data vermibus, o que fazemos com ela?

- Shhhhhhh! Não diga essa expressão! Chame-o "cadáver".