quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Proibido estacionar

Já não estava aguentando mais todos os dias ter dificuldade para passar com o ônibus naquela maldita esquina. Era sempre no último horário, quando eu já me preparava para fechar a viagem e entregar o veículo na garagem. E aquela maldita esquina atrapalhando meu caminho a cinco quadras do ponto final.

Poderia pedir para trocar de linha, mas era cômoda para mim, pois a garagem era perto de casa. Cheguei a pedir para trocar de horário, porém não havia outro motorista disponível para assumir o meu lugar.

Tudo começou por causa de um boteco que abriram ali. Tinha boa música (na concepção deles), atraía muita gente. Por causa do movimento, outro boteco abriu ao lado, este com videokê. Para piorar a situação, uma igreja evangélica em frente, cujo culto começava exatamente na hora de maior movimento dos dois bares. Resultado: carros estacionados dos dois lados e na rua perpendicular, o que me impedia de virar a esquina com o ônibus.

Ganhei o apelido de “estressadinho” de tanto buzinar para as pessoas tirarem seus carros dali. Ah, e não pense, caro leitor, que eu não tentei. Falei com a empresa de trânsito da cidade várias vezes e eles simplesmente ignoram meu pedido de colocar algumas placas de “proibido estacionar” ali.

Pois bem. Um dia o estressadinho aqui se cansou.

Trabalhei normalmente o dia inteiro, só pensando na hora de passar pela maldita esquina.  Paro um quarteirão antes e admiro ao longe aquela quantidade de Chevette, Brasília, Corcel, Passat quadrado, só aquelas coisas horrorosas e cheias de massa e ferrugem que o vulgo convenciona chamar de carro, de um lado e de outro na rua.

Parei o ônibus. Havia nele uns dez passageiros, que começaram a reclamar. Ignorei. Certifiquei-me de que não havia nenhuma criança por perto.  Gritei para os passageiros: “vou arrastar este busão na lateral daqueles carros. Quem quiser participar, se segure. Quem não quiser, pode descer.”

Dois corajosos ficaram. Acelerei o máximo que pude e soltei. Fui levando retrovisor, porta, para-lama, fazendo ziguezague, aí atingia os carros do outro lado também. Eu ria, estava me divertindo. Não matei ninguém, nem queria, mas desta vez eu consegui dobrar a esquina sem buzinar!

* * *

Putz, acordei assustado e suando em bicas. Nossa, nunca imaginei que meu estresse me levaria a um sonho desses. Tudo bem, ainda bem que foi só um sonho. Levantei-me e lavei o rosto para ir à padaria. Minha mulher se animou e decidiu ir comigo.

Assustamo-nos com a quantidade de viaturas no bairro àquela hora da manhã. Na certa haviam matado algum traficante, coisa assim. Fomos andando mais um pouco e vimos um monte de carros destruídos e lá na frente o meu ônibus, o veículo no qual trabalho, totalmente arrebentado na frente e nas laterais.

Pedaços de para-choque, vidros, retrovisores, tudo espalhado pela rua. E lá na maldita esquina a equipe da empresa de trânsito instalando uma placa de proibido estacionar.