sábado, 7 de março de 2009

Treze Anos

De eriçar-lhe os pelos e provocar-lhe o arrepio da alma e do coração, ele passou-lhe a mão pela cintura, apoiou a mão em seu quadril, disse-lhe gracejos e pediu-lhe um beijo. Foi-lhe negado em um primeiro momento, mas o arrepio que percorria o corpo dela dizia que era chegada a hora da renúncia ao passado, da entrega completa e da liberdade.

Ela sabia que amava verdadeiramente aquele homem que, mesmo depois de tantos anos, ainda despertava reações que ela mal compreendia, ou, se compreendia, não queria deixar-se levar. Talvez por insegurança, ao pensar que ele poderia rejeitá-la, ou pela sua pouca idade, mas agora, mulher feita, sabia que podia. Tinha nas mãos a volúpia de Rania, o poder dos trinta anos de Julia, a sedução de Violetta, mas o coração frágil de Cio-Cio-San.

Se poderia aproveitar, seria agora, não desperdiçaria mais uma vez a chance de roubar-lhe um beijo. Não precisou. As bocas se calaram e o pedido, novamente feito por ele, foi atendido. Naquele momento, a magia da divagação de quinze segundos antes do encontro os envolveu, o encanto foi quebrado e a comunicação, principal habilidade dos dois, desta vez não falhou, apenas mudou de verbal para a materialização da sensibilidade.

As palavras já não mais faziam diferença, pois finalmente suas bocas e seus corpos se encontraram, e o arrepio de coração contagiou aos dois e elevou-lhes o espírito em oração e agradecimento. Foram treze anos esperando, amando de longe, em silêncio. Treze anos amargados em amores mal amados, mal resolvidos, mal vividos.

Em uma noite, os treze anos de espera transformaram-se no mais puro, sincero e verdadeiro amor, em que a loquacidade de ambos foi calada com liberdade, respeito, carinho e pelas lágrimas de alegria por haverem se reencontrado.

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