Ela entra no carro, desce a serra e alcança a planície. Comendo carambolas e falando sem parar, sua vivacidade contagia. Ainda em terra, no aeroporto, o coração pulsa por aquela escolha que seria a mais feliz e fiel a si que já fizera. Ela era aviadora, amava a liberdade, a velocidade, a máquina, a inteligência. Tomara para si a responsabilidade sobre o direito de ir e vir.
Observa a aeronave com a brejeirice de uma criança e a precisão de um piloto. Dentro de alguns minutos teria em suas mãos o manche, os profundores, a deriva, o leme, o estabilizador e, ah, as asas, que também tornavam alado o seu espírito.
Taxia até a pista, reconhece os comandos como quem dirige um automóvel pela primeira vez. Alinha na cabeceira, ouve as instruções, põe o capacete, testa a comunicação.Ouve maravilhada o som do motor quando acionado. Dá potência e a aeronave corre na pista, e finalmente alça seu primeiro voo. Era a liberdade bradando-lhe que era isso que queria e deveria fazer pelo resto da vida.
Deus, ela já é feliz com o que deste, e é com este belo sol e este profundo azul que nela puseste a coragem para voar. Ela suporta o estol com um suspiro, impulsiona a aeronave até onde possa ver águas, nuvens, montanhas cobertas de verde, de laranja, de amarelo, de arco-íris.
Encara o vento de través sem medo, como uma comandante experiente, empunhando firmemente o manche enquanto as asas descrevem sua trajetória curva até atingirem a perna do vento. Baixa mais alguns pés, toma a perna base e pousa como uma borboleta, suave, sem pressa, sem barulho.
Desce da aeronave com todas as cores nos olhos, todos os sabores na boca, todos os sentimentos nas mãos. Estava de alma lavada e alada.
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