quinta-feira, 14 de maio de 2009

Cotidiano

O sol mal desponta e os dois já estão de pé, acelerando o passo para não perderem a hora. Ele apronta o café e coloca os pães na torradeira, enquanto ela passa uma camisa. Entre beijos e a conversa matinal, vão organizando a pauta do dia, colocando o jornal próximo da pasta, o computador portátil na mochila, os óculos de grau no estojo.

O som do liquidificador acorda as crianças, que vêm, ainda de pijamas, em algazarra pela cozinha. Derrubam um vaso de flores e a mãe, brava que ficara, retira-as dali e leva-as logo para o banho. Veste-lhes o uniforme do colégio, dá-lhes a vitamina, auxilia-lhes na escovação dos dentes, penteia-lhes os cabelos e ouve a buzina do escolar que os aguardava na porta de casa. Despede-se de cada um com um beijo, mesmo com a bronca por eles terem destruído suas violetas.

Volta e ri de si mesma, e pensa como a felicidade pode estar numa coisa tão cotidiana. Ficara chateada, mas os risos, a alegria e o amor dos filhos compensavam qualquer contratempo que viesse a ter com eles. Entra em casa e vê o marido terminando de preparar-lhe um suco de laranja. Senta-se e com ele toma seu café, ajeita-lhe a gravata e enche-lhe de afagos.

Saem para trabalhar, prontos para encararem mais uma vez o trânsito infernal de Belo Horizonte. Param num sinal amarelo, e um sujeito que vinha logo atrás buzina para que os dois avancem, mas, felizes em um terno beijo, nem se importam com pressa do outro. O sinal ainda há de abrir, ele pode esperar. O sujeito ralha, reclama, buzina; passa à frente e segue seu caminho, mal humorado. Os dois permanecem rindo e felizes, e trocam beijos a cada sinal vermelho.

Ao final da tarde, ele a reencontra, e voltam juntos para casa. Aquele belo horizonte convida-os à contemplação do arrebol. Em mais um dos inúmeros semáforos daquela cidade, num veículo ao lado do deles, algumas moças cantam e batem palmas. Os dois começam a bater palmas e a rir junto com elas. A felicidade os embevecia e contagiava quem estava próximo e, como um pássaro, pousava suavemente sobre a cumeeira da casa de amor que construíam dia a dia.

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