Desesperada, procura o telefone na bolsa, não consegue encontrá-lo. Tenta parar um transeunte ou outro, mas na gigantesca e violenta São Paulo ninguém quer ajudar, não por falta de humanidade, mas por medo.
No largo de Santa Ifigênia, os pedestres nela esbarram, jogam-na ao chão algumas vezes. Um ou outro tem a bondade de ajudá-la a se levantar. Uma mulher a guia até a estação do metrô, onde poderia conseguir o auxílio de uma viatura policial.
Por entre dores ela caminha, apoia-se numa parede, mais à frente num poste. Pálida, vem suando frio, respiração rápida e curta. Aquele volume em seu abdome mostra ao mundo que ela está grávida e prestes a dar à luz. Ela continua caminhando, a fronte elevada e os olhos lânguidos dizem que é chegada a hora.
As contrações provocam-lhe arrepios na espinha, dilatam-se-lhe as pupilas. As dores começam a confundir-lhe os sentidos, ela ouve cheiros, sente sons e prova visões. Continua tentando encontrar o telefone na bolsa, mas já não mais consegue falar. Tomba no meio do pátio, entre o povo. As dores, cada vez mais fortes, roubam-lhe as forças. É, sim, chegada a hora.
Um policial e uma funcionária acolhem-na e levam-na para uma sala reservada. Chamam uma ambulância, enquanto assistem aquela mulher. A funcionária a despe e pede para que respire, e a nova vida vem ao mundo.
Não demora muito, e logo o choro de expulsão do líquido amniótico dos pulmões irrompe naquela sala. O policial e a funcionária, mesmo emocionados, providenciam o corte do cordão umbilical e levam o filho ao peito da mulher que, pulsando e chorando de alegria, o recebe e o acolhe.
Sim, era chegada a hora. Ela agora era mãe, na estação da Luz.
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