sexta-feira, 28 de maio de 2010

Bonsai

Ele costumava tomar banho e passar perfume antes de dormir. Dizia que nunca se sabe a quem encontraremos nos nossos sonhos. E foi em vários destes que se perdeu na imagem da mulher que idealizou: bonita, inteligente, simpática, agradável, amiga e, principalmente, independente.

Um dia, ela deixou de ser parte do cotidiano do sono e virou realidade. Ela estava ali, a menos de dez metros; havia acabado de limpar o escritório, trazia nas mãos livros, papéis, calculadoras e um bonsai. As unhas lilás, anéis bonitos, um sorriso encantador. Ela estava ali, o que o deixou mudo e pensando "é esta!".

Ele era diferente, ela só não sabia por quê. E ela também era diferente de tudo o que ele havia conhecido - o bonsai! Ele nunca havia visto ninguém entrar com um bonsai num bar! Conversaram uma boa parte do tempo em que ficaram próximos naquele local. Ela, de certa forma, também ficou paralisada ante a delicadeza daquele homem. Mas ela teve que ir embora. Despediu-se sem dizer onde morava, o que o deixou ainda mais intrigado e encantado.

O tempo passou e os dois se reencontraram. Beijaram-se, amaram-se. Tinham tudo a ver: o trabalho, o conhecimento, a alegria, a vontade de viver. Para onde iam, estavam sempre juntos. Houve convite oficial. "Quer ser a minha namorada? De andar de mãozinha dada, de fazer tudo junto, de compartilhar a vida comigo?" Houve o aceite oficial, houve a apresentação mútua aos círculos de amigos.

De repente, ele sentiu um vazio no peito e, sem se dar conta, começou a ser grosseiro com ela. Olhava o nome dela no visor do telefone e não tinha vontade de atender. Do outro lado da cidade, ela se sentia rejeitada e se perguntando o que havia feito. A resposta? Nada. O peito vazio era o dele, não o dela.

Finalmente ele disse o que pensava. Não estava pronto para relacionar-se, estava com saudade da vida boêmia e conciliar isso com o namoro, a casa, os filhos do casamento desfeito, o trabalho era difícil. Era mais fácil sacrificá-la.

Pacientemente ela ouviu e aceitou o fora, embora não concordasse com um só argumento. Quando foi sua vez de falar, disse-lhe que ele estava sem paz, e essa paz ele não ia encontrar no trabalho, nem em outra pessoa, muito menos na boemia. Que ele não havia vivido para si próprio antes de querer viver para alguém. Que ele estava se escondendo atrás de seus objetivos profissionais para disfarçar uma frustração pessoal. O peito vazio era o dele, não o dela. Ela, sim, estava em paz.

Daí a vida dele recomeça, vem outra mulher de bonsai na mão, ele se encanta e se empolga, volta o vazio do peito, recomeça a grosseria, lá vai outra mulher bacana embora. Fica a sensação de que nenhuma é boa o suficiente, mas não é isso. É a fantasia de querer a mulher perfeita para si e, na hora em que ela aparece, não saber o que fazer com ela.

É melhor ter cuidado com o que se pede.

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