I have died everyday, waiting for you
I'll love you for a thousand more
And all along I believed, I would find you
Time has brought your heart to me, I have loved you for a thousand years
I'll love you for a thousand more
(Christina Perri)
Era a nossa escola, a nossa educação em jogo, era brigar com polícia, era ir marchando no mínimo seis quilômetros fazendo barulho em diversas capitais. Era uma passeata, estourava uma greve. Jovens éramos, derrubaríamos um ministro nos nossos quinze anos de idade, quiçá um segundo presidente.
Havia estado dias antes com você em seu aniversário, dia no qual fiz um teatro em que eu era a Julieta e você ficou morrendo de ciúme do Romeu. Alguns dias antes disso eu ainda havia combinado com uma amiga de testar a sua fidelidade e eu testar a do namorado dela. O meu passou no teste, o dela não. E você ficou chateado comigo com razão. Como me arrependo disso, ainda mais porque quando esse mocinho tentou me roubar um beijo, eu bati com a cabeça no portão da escola na tentativa de me desvencilhar.
Aprontei feio com você naquela semana. E você se aproximou de uma mocinha mais sedutora do que a tosca eu aqui e se deixou levar. Ficou com ela. E no meio da passeata veio me contar que não poderíamos mais continuar juntos porque estava gostando dela.
A partir daí as coisas acontecem na minha mente em câmera lenta. Arrepio meus curtos cabelos, somo minha voz aos gritos de ordem contra o ministro e o presidente e me junto à turma que caminhava à minha frente. Meto um beijo de língua no "Romeu", bem diante dos seus olhos. Você parado, me olhando distante, perdido. Eu andando, beijando o rapaz e olhando para você fazendo troça e lhe mirando com ódio. Segui pra outro lugar e você ficou lá, estático. Não sei o que houve mais naquele dia, minhas memórias são bloqueadas a partir do momento em que entrei num ônibus com o "Romeu" e aquela turma.
Na semana seguinte você me ligou para tentar se desculpar. Você se arrependeu. Falou que a mocinha te disse bem-feito, que ela não mandou você terminar comigo, que ela não queria nada sério com você. Eu, na minha imaturidade e no meu orgulho ferido, acabei com você. Disse que tudo o que você fosse fazer dali para a frente que nós já tínhamos feito juntos um dia você se lembraria de mim. Fossem as caminhadas pela cidade, fosse a observação das pessoas, fossem as conversas pelo olhar que tínhamos.
Acabei usando o "Romeu" como muleta emocional durante os quatro meses de greve. Outro arrependimento monstro que tenho, ter magoado um cara tão legal.
Quando voltamos, você já estava com outra menina, que me media de cima a baixo. Um dia, chamei-a num canto e disse que ela não precisava me temer, porque eu gostava tanto de você que eu estava deixando o caminho livre para vocês serem felizes. Ela se assustou e até passou a me cumprimentar. E eu ali, amargando olhar para vocês de mãos dadas na hora do intervalo. E guardei meu amor para mim.
Aí troquei de turno, de curso, de turma e assim fugi de vocês. Segui minha vida, tive outros relacionamentos. E você também, pelo que soube. Nossos amigos em comum sempre souberam que eu era louca por você, mas sobre os seus sentimentos eu não tinha certeza. Nunca tive.
Cinco anos depois nos reencontrávamos na universidade. Minhas pernas ficavam bambas cada vez que eu te via quando tinha aula no seu prédio. Custamos a nos reaproximar e retomamos a nossa relação. Eu estava feliz de novo com você.
Mas eu não sabia o que acontecia, existia uma coisa ali que não falava, e pela primeira vez não consegui ler seus olhos em tantos anos. Você me afastou e eu nunca soube o porquê. Aquilo acabou comigo, pois sempre pensei que o problema fosse eu. Talvez porque cinco anos depois eu já estivesse mais chata, mais responsável, querendo mais da vida. Querendo um objetivo com você. Mas não funcionou. Saí de cena mais uma vez. Doeu. Muito. Você não faz ideia do quanto.
Depois disso, minha vida amorosa foi uma sucessão de fracassos e ganhei depressão, ansiedade e baixa autoestima. Tornei-me uma viciada em redes sociais, buscando em outros, principalmente de lugares distantes, os bons papos que tinha com você. Meu déficit de atenção gritou e a bipolaridade explodiu. Eu era a funcionária maravilhosa e dedicada, com toque de Midas, como você mesmo diz, que não tinha inteligência emocional. Resolvia tudo em rompantes - igualzinha a você.
O dia que mais me doeu após nosso afastamento foi sete anos depois, quando eu subia uma rua do centro e vi, pela visão periférica, você e uma menina, na rua, entre as motos. Eu ia fingir que não vi, mas você me chamou e me apresentou a sua namorada. Morri por dentro, o sangue se esvaiu do meu rosto. Ela me odiou de cara tal qual a do pós-greve. Entretanto, mais uma vez deixei o caminho livre para que você fosse feliz ao seu jeito. Você que não viu, mas segui o resto da rua chorando.
Perdi. Naquele dia perdi. Você se casou com ela no mesmo ano que eu me casei com outra pessoa, e ao que parece você é feliz com ela. Vocês tiveram um filho, assim como eu. Mas eu já me separei, porque não aguento mentir para mim mesma.
Sempre me lembro de você. Hoje sou eu que faço as coisas que lhe disse ao telefone que iam fazer você se lembrar de mim. Sempre direciono orações a você. Guardei meu amor para mim, o verde dos seus olhos é uma constante na minha memória. Abri mão de você outra vez por tanto amar você. E como diz a música ali em cima, eu morri todos os dias um pouco esperando por você. Amei você mil anos e amarei outros mil.