sábado, 16 de julho de 2011

Ana Rosa

No metrô de São Paulo, cansada de mais um dia de trabalho, assento-me numa cadeira isolada, na lateral de um banco duplo, que estava vazio. Na estação da Sé, entram duas moças e ocupam esses dois lugares.

Voltei à realidade ante a beleza das meninas. Comecei a prestar atenção na conversa e nos gestos. Eram um casal, ambas bem vestidas, de botas, jaquetas de couro, uma de cerca de um metro e setenta e cinco, a outra um metro e sessenta. Seriam um casal como outro qualquer, se não fosse por um detalhe: uma delas usava um lenço na cabeça. Elas estavam voltando de um hospital, em que esta fazia um tratamento contra um câncer.

O lenço era bem colorido, diga-se de passagem. Amarelo, azul e rosa. Lindíssimo. Deu um destaque todo especial à indumentária da jovem. A mais alta, que havia ido buscar a namorada no hospital, era toda sorrisos. Olhava a companheira com ternura, acariciava-lhe a face, tocava-lhe o queixo. E começou a contar piadas, fazendo com que a pequena de lenço se esquecesse de todas as dores e começasse a rir. E falou que agora é que ela estava fina, porque o lenço combinou com a roupa. E que tinha em casa outros lenços bonitos que tinha escolhido especialmente para ela.

A pequena ria deliciosamente. Momentaneamente mergulhou na alegria da namorada, que não se continha de tanta felicidade. Ela tinha ido buscá-la no hospital depois de um dia chato de consultas, retorno, tratamento, remédio, médico, toda essa rotina cansativa e trabalhosa. Essa rotina de uma luta árdua que muitos travam todos os dias, e aquele casal estava ali, na minha frente, me dando uma lição de apoio, superação e amor. Acho que em dado instante até cheguei a ser inconveniente, porque se calaram num momento em que eu as contemplava. A verdade é que eu estava em êxtase.

As meninas desceram na estação Ana Rosa. Ana e Rosa. Seria apropriado chamá-las assim, já que eu não sabia seus nomes e pela coincidência da estação em que saltaram. A mais alta abriu o braço direito e o ofereceu à namorada de lenço na cabeça. Fez-lhe, então, um carinho no lóbulo da orelha e logo sumiram da minha vista na escada rolante. Mal sabiam elas que ali permaneci observando-lhes o tempo todo e que deixei escapar uma lágrima. 

O metrô seguia, então, seu caminho no sentido Jabaquara. Meu coração estava disparado, minha pele arrepiou. Foram poucas as vezes na vida que vi tamanha prova de amor.

É bem verdade que o amor tudo crê e tudo suporta. E sobretudo emociona.

5 comentários:

  1. E seja qual for o gesto ou a prova de amor... sempre me emociona.
    Obrigado...

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  2. É revigorante ver uma lição de vida e amor dessas na nossa frente.

    Deviamos contemplar isso com mais constância, mas talvez isso diminua o sentimento de "lição especial" que aprendemos.

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  3. Lindo! Me emocionei demais e corri pra mostrar pra minha namorada.

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