"Toda mulher gosta de rosas e rosas e rosas
Acompanhadas de um bilhete me deixam nervosa
Toda mulher gosta de rosas e rosas e rosas
Muitas vezes são vermelhas, mas sempre são rosas"
(Ana Carolina/Totonho Villeroy)
Acompanhadas de um bilhete me deixam nervosa
Toda mulher gosta de rosas e rosas e rosas
Muitas vezes são vermelhas, mas sempre são rosas"
(Ana Carolina/Totonho Villeroy)
Outro dia enviaram-me de novo aquele famoso e-mail da mulher que recebe rosas e não é nenhum dia especial. Ela recebeu porque apanhou tanto do marido que morreu. Estou, na realidade, farta de receber essas correntes "pela vida": esta mulher que morre pela violência doméstica; aquela moça cuja mãe falou para não beber e ela só tomou refrigerante e, mesmo assim, um bêbado bateu no carro dela e ela morreu; as Nizildinhas da vida, cujo tratamento de câncer na rebimboca da parafuseta do ângulo pontoencefaloduodenal depende de você repassar a corrente para trezentas mil pessoas... As causas são nobres, mas a consciência é minha, e dá preguiça entupir a caixa postal alheia com bobagens.
Agora vêm aqueles críticos chatos e com o coração cheio de amor para dar e dizem "nossa, que cronista mais insensível!". Podem dizer à vontade. Não sou insensível, sou prática. Depois de anos de internet, certamente sei diferenciar os tipos de mensagem que recebo, e seleciono-as com muito critério antes de repassar, ainda mais se estiverem falando de violência, doenças e toda sorte de coisas ruins.
Voltando à mulher que recebeu rosas. Desta vez esta mulher sou eu. Hoje fui eu que recebi uma rosa. De mim mesma. Almocei no Mercado Central, nos botecos que avivam Belo Horizonte, em meio aos pássaros, flores, cestos, empadas e cachaça, ouvindo ao longe a sinfonia do trânsito caótico da rua Curitiba.
Placidamente tomei uma dose de cachaça que virei num copo de limonada suíça. Eu estava adorando a minha companhia. Conversava com meus pensamentos e ria das ideias que me vinham à cabeça, inclusive a desta crônica. Saí de casa linda, usando saia, meia-calça preta e salto alto. Usei minha melhor maquiagem, caprichei na produção. Comprei um vestido lindo para usar num evento mais tarde. Ah, os brincos que comprei também são maravilhosos. Tudo isso para quem? Para mim. Eu mereço. E enquanto ainda aproveitava minha própria companhia e saboreava minha limonada alcoólica, me desliguei completamente dos problemas do trabalho. Eu estava adorando estar ali para mim mesma, dando gosto de me olhar ao espelho. Mulher que recebe rosas pela morte? Sou uma que celebra a vida.
Levantei da mesa, paguei e fui andando devagar pelos corredores do Mercado. Parei em uma floricultura e comprei uma rosa. Trouxe para o escritório e todos ficaram me perguntando de quem a ganhei. Respondi, sorrindo: "de mim mesma". Não sou ruim ou insensível por não pensar nos outros, muito menos os das correntes cibernéticas, e gostar bastante de mim.
Hoje, cantando, eu me dei uma rosa. Estou celebrando a vida.
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