sábado, 25 de setembro de 2010

Escalada

Foram vales gigantescos e montanhas pontiagudas
Subidas íngremes e o corpo que se vai
Caminhando pela estrada sem sentido
A esmo, subindo e subindo a colina

Em uma agulha ele contempla
Todos os contornos da nação e mais além
Vence os obstáculos do solo
O mato, a neve, as pedras
E sobe com a visão do céu
E das poucas aves que o acompanham

Cai
Arrebenta o joelho na escalada
A dor lhe é insuportável, mas já era previsível
Que se machucasse em uma pedra solta que não soubera reconhecer
Pedras tão parecidas com as rochas já firmes da montanha
O mato lhe dá alergia
Roça-lhe as pernas, os braços
Deixa-lhe sementes nas roupas
E vai ficando menos denso a cada trecho mais íngreme
A neve consome-lhe os pés
Não estava preparado para tamanha frieza com beleza
A alvura que lhe aparecia em volta o encantava
Mas ao mesmo tempo cegava-lhe e o enregelava
Ai, não queira que lhe gangrenem os pés!

Já a montanha de grau cinco
Pede mosquetões, cordas, estribos
Não sabe porque escolheu a face mais difícil
Mas já que estava ali era melhor encará-la
Tamanho rochedo quase intransponível

Ao fim, ao contemplar toda a nação deste ponto,
Abre as asas negras e voa até a boca da montanha vizinha
Mergulhando no vulcão em erupção
A lava consome-lhe as penas, a pena,
A raiva, o ódio
O ócio, o corpo, o coração
E torna ao pó de que da terra foi feito

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