sábado, 30 de abril de 2011

Sábado babaca

Sábado cilada
E a bacaba acaba
Faz-se baciada
E acaba mais nada
A sílaba apaga
A cada agarrada
A garrafa acaba
Se acaba o sábado
Se acaba a ressaca
Se larga na tarrafa
Se abarca em Reñaca
Sábado se acaba
Sábado babaca
Acaba-se a bacaba
Apaga-se a garrafa

terça-feira, 5 de abril de 2011

Solitários na rede


Somos lo que somos
Y nos entendemos a lo lejos
Somos los que somos
Desunidos
Pero queremos amor

(Beto Cuevas - “Hablame”)


O amazonense Roosivelt Pinheiro me tocou o coração com uma obra intitulada “Solitário na/da rede”, e tive a oportunidade de admirá-la em Belo Horizonte e em São Paulo, com a mesma emoção e o mesmo arrepio ao interpretá-la. A montagem consistia em materiais extremamente simples: uma mesa, uma cadeira, uma tarrafa e pedras. Redes menores suspendiam-nas, uma a uma.

Cá estou eu escrevendo como se fosse a tarrafa da obra. Toda embolada, cheia de areia, casquinhas, conchinhas, restos de anzóis e cheiro de peixe. Uma rede complexa envolvida por outra mais simples. A areia que deixo cair como meu rastro; as casquinhas que vão se soltando de qualquer coisa são lascas de madeiras de barcos, remos, tinta, lixo, das quais vou me desfazendo aos poucos; conchinhas que guardam com carinho o barulho do mar e as vozes que ouço e que imagino; restos de anzóis por coisas que ainda me fisgam o coração; minha eterna “amazonice” representada pelo cheiro de peixe. Não, eu não cheiro a bacalhau, apesar de a tarrafa da obra ter sido usada no mar.

Sentada na cadeira e com meu computador na mesa, eu tarrafa envio à rede mais simples minhas mensagens, ideias e ideais. Falo com pedras. Sou uma solitária na rede, fazendo do meu ciclo virtual algo real e presente.

Creio que muitos dos que convivem nesse ambiente comigo se sintam da mesma forma, isolados e até hostilizados. Mas, sabe, às vezes ficar no virtual é mais interessante que no real. Apesar de na rede você poder ser quem você quiser, o real ultimamente está até mais superficial, as pessoas não querem saber de sonhos, de conhecimento. Não querem saber do amor, do tempo e da construção. Querem o tórrido romance e para ontem. Não se importam se você sofre, você tem que produzir.

Ouço música de tudo quanto é canto do mundo, graças a essas pedras, os amigos virtuais. Eles são outras tarrafas que me ensinam suas culturas. Ao aparecer, sou uma pedra a mais para eles. E é engraçado como há uma interseção no que falamos, as primeiras conversas sempre têm o mesmo conteúdo: por que uma pessoa legal e interessante como você está sozinha? E a resposta também é sempre a mesma: não encontrei quem desse valor a sentimentos verdadeiros. Estamos todos à procura de amor. Real.

O virtual é o campo das ideias, assim como também das fotos e filmes, mas o cheiro e o tato é algo que a rede ainda não permitiu. A amizade começa e fica, mas os abraços, beijos e mesas de boteco dependem da nossa imaginação. Enquanto isso seguimos à procura do amor, vamos sendo tarrafas recebendo mais e mais informação de outras tarrafas, tão complexas umas quanto as outras.

Somos o que somos e nos entendemos de longe, desunidos, mas o que queremos mesmo é amor.

(2010)